
De acordo com a pesquisa feita em outubro, 69% dos entrevistados agora também acreditam que o Brasil caminha na direção errada após as últimas medidas econômicas de ajuste fiscal. Só para se ter uma ideia, em 2004, a mesma avaliação era compartilhada por 24%. Porém, a variação é pequena em uma comparação com os dados dos meses de abril (65%) e julho (66%) deste ano. O pessimismo com relação ao futuro somou 11% em março, o que representa uma leve queda ante julho, quando ficou em 13%. A preocupação também apresentou poucas alterações, permanecendo no elevado patamar de 66% - dois pontos abaixo o percentual registrado em abril, mas um acima julho deste ano e nove dos números de outubro de 2014.
Maior pessimismo também foi visto na avaliação sobre o consumo das famílias. Em 2014, 35% dos entrevistados acreditavam em melhora, contra 30% esperavam a manutenção do cenário e 35% esperavam piora. Essa relação mudou para respectivos 12%, 19% e 62% em abril de 2015; 11%, 17% e 72% em junho; e, mais recentemente, em outubro, 11%, 23% e 72%. Movimento similar foi visto na percepção sobre o movimento da taxa de juros. Enquanto no ano passado 24% esperavam por uma melhora, 27% acreditavam na manutenção e 49% em piora, em outubro deste ano apenas 6% acreditam que a situação vá melhorar neste quesito, o grupo dos que esperam manutenção contou com 12% dos votos e a piora bateu a marca dos 82%.
Do lado da oferta de crédito, um ano atrás, 39% estavam otimistas, 37% nem tanto e 23% manifestaram posição pessimista. Em abril deste ano, a relação se deteriorou para respectivos 12%, 26% e 62%. Um mês depois, o pessimismo cresceu mais um tanto: 10%, 24% e 66%, respectivamente. Hoje, 68% dos entrevistados esperam piora na oferta de crédito para os próximos meses e apenas 11% revelaram um olhar mais positivo. A pesquisa ainda mostrou que 66% apontaram ter dívidas, sendo o cartão de crédito o principal vilão (73%). Quando questionados se estariam dispostos a tomar mais crédito, 82% dos entrevistados responderam que não. Entre os 18% que disseram que sim, a categoria de crédito consignado (36%) aparece como a opção preferida, seguida pelos automotivo (33%) e imobiliário (33%) empatados.
O endividamento, mostra a pesquisa da TNS Brasil, tem uma explosiva combinação com a piora do mercado de trabalho e o aumento da sensação de insegurança dos brasileiros com relação às condições de conseguir manter o emprego atual. Apenas 36% declararam-se seguros quanto à manutenção do emprego nos próximos meses, enquanto 28% negaram e 36% disseram que estão desempregados - fator que gera questionamento sobre o universo das entrevistas realizadas pela pesquisa. Conforme apresentou o CEO da companhia, James Conrad, em palestra realizada durante o 10º Simpósio Internacional Acrefi, a pesquisa foi feita no campo online, contou com 1000 entrevistas realizadas em todas as regiões do Brasil, com pessoas com idade entre 18 e 65 anos, sendo 51% mulheres e 49% homens.
Todo esse avanço de pessimismo certamente acabaria por desembocar sobre um crescente descrédito da presidente Dilma Rousseff em relação a parcelas cada vez mais expressivas da sociedade - incluindo seu eleitorado natural, altamente refratário ao ajuste fiscal proposto por sua equipe econômica e que vai de encontro ao que foi apresentado durante a campanha eleitoral do ano passado. Neste quesito, o estudo revela que a confiança sobre a capacidade da petista reeleita em resolver cada uma das prioridades listadas apresentou trajetória de queda quase que ininterrupta de outubro de 2014 para cá. Quando questionados se a presidente conseguirá promover a recuperação do crescimento econômico, apenas 7% dos entrevistados responderam afirmativamente. Em julho, este número foi de 16%, enquanto em abril foi de 10%, e um ano atrás, 52%. Cenário similar é visto com relação à reforma política - cujo otimismo recuou de 43% em 2014 para 6% hoje -, infraestrutura - de 46% para 10% - e reforma tributária - de 38% para 6%.
A exceção ficou em dois quesitos, que tiveram leve respiro no comparativo de julho para cá, mas também se inserem em contexto dramático. O primeiro deles diz respeito à confiança na redução da taxa de juros. Após chegar a bater a mínima de 3% no início deste semestre, o indicador apresentou recuperação em outubro ao marcar 7%. No entanto, quando comparado com patamares de um ano atrás, a deterioração é expressiva: entre 5 e 14 de outubro do ano passado, a crença de que Dilma seria capaz de trazer a taxa de juros a níveis mais baixos era de 45%. O segundo quesito se refere à inflação: em 2014 a confiança em uma redução no avanço dos preços ao consumidor era de 46%. Em abril e junho ficou estável em 8%, enquanto no mês passado apresentou leve alta para ainda modestos 11%.
Depois da reforma política, o combate à inflação foi apontado pelos entrevistados como prioridade a ser combatida pela presidente, conforme apontou a pesquisa da consultoria TNS. A inflação, mostra o estudo, tem impactado no padrão de consumo de 90%, sendo lazer (84%), vestuário (80%) e alimentação (74%) as áreas mais afetadas pelas mudanças de hábitos dos entrevistados. Quando a pergunta é sobre o prazo de validade da crise, a maioria não soube responder tamanho clima de incertezas e pessimismo aflorado. Para 18%, as coisas melhorarão significativamente somente em 2018 - mesmo percentual daqueles que esperam mudanças significativas na segunda metade do ano que vem. É ver para crer. Quem dá mais? Enquanto isso não acontece, cada vez mais brasileiros acreditam em piora de situação financeira pessoal, padrão de vida, capacidade de fazer compras de casa e investimentos em carro ou casa. A crise atingiu um dos grandes pilares da economia brasileira dos últimos anos: a resiliência do consumo.
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