1.433684
Ney Matogrosso, quem não ama? O cantor, ator, diretor e iluminador mantém o mesmo corpo (ele insiste em dizer que não é bonito, mas que, no palco, faz com que as pessoas acreditem que seja) dos 20 e poucos, aos 74 anos – ele jura! O que Ney não pode negar é ser dono, de verdade, de uma voz de contratenor maravilhosa (que talento!) um bom gosto enorme para escolha de repertório e um apelo que fazem dele um dos mais completos artistas do país.
Desde os Secos e Molhados, grupo no qual se tornou conhecido, nos anos 70, Ney começou a provocar mudanças no conceito de como deve ser o comportamento sexual do brasileiro – o homem, principalmente. Só essa influência além da cena artística já garantiria ao cantor um lugar especial naMPB, mas Matogrosso vive se renovando, se aproximando de artistas jovens e menos conhecidos. No seu mais recente CD, “Atento aos Sinais”, Matogrosso dá espaço a compositores como Criolo,Dani BlackVitor PirralhoDan Nakagawa e Rafael Rocha (do grupo carioca Tono). Em turnê nacional desde 2013, o show homônimo continua até março, quando vai seguir pela América do Sul. Mas Ney, como uma autêntica “Metamorfose Ambulante”– música de Raul Seixas da qual ele é o melhor intérprete – já pensa em seu novo projeto como ator. Dirigido pela cineasta Ana Carolina, ele e um ator ainda não escolhido vão interpretar poemas de Gonçalves Dias e Ney vai cantar músicas de Carlos Gomes e Villa-Lobos. É sempre um homem cheio de planos e não há crise que atrapalhe isso. Leia sua entrevista.
1
A crise atinge a criatividade do artista?
 “A minha não atingiu, não interfere porque eu acho que a crise passa, meu movimento artístico independe disso.”
2
Você nunca fez política partidária, que se saiba. O que você está achando dos ânimos da população, das discussões acirradas que estão acontecendo nas redes sociais por causa de política? Na música “Rua da Passagem” (Arnaldo Antunes e Lenine), do seu novo CD, você canta “Todo mundo tem direito à vida/ Todo mundo tem direito igual” e “Gentileza é fundamental”. Qual a sua impressão sobre o estado de espírito no país?
“Política partidária jamais. As pessoas estão perdendo a noção quando deixam que a política as deixe transtornadas. Isso é um absurdo simplesmente por que as pessoas que fazem política não merecem essa atenção, gastar energia dessa maneira com políticos, é um desperdício. Já vimos, já entendemos que a corrupção era uma coisa organizada. As pessoas que os colocaram no poder foram iludidas. Não acredito nessa política instituída. E o que sei é que no Brasil estamos apenas no começo das dores.”
3
Como você se adaptou à nova realidade do mercado, na qual a rentabilidade do artista está mais nos shows do que da venda de CDs físicos?
“Nunca fui vendedor excepcional, sempre vivi de show muito mais do que da venda de CD. Ganho a minha vida literalmente com o suor do meu corpo.”
4
Tem muita gente dizendo que o país encaretou, apesar da aprovação do casamento gay. Qual é a sua opinião sobre a sexualidade do brasileiro? Acha que estamos numa fase conservadora?
“O conservadorismo que permanece no congresso oficializa um retrocesso, mas a internet proporciona uma liberação muito grande. Não me interessa conhecer gente por Internet. Aparentemente tudo parece facil, mas eu preciso ver, falar, sentir o cheiro, é diferente dessa liberdade virtual, onde se você responder a um boa noite, daqui a pouco chega uma proposta desembestada e louca. Hoje em dia é muita oferta, mas como falei, a oferta virtual não me interessa.”
5
Você precisa estar com a vida sexual em dia ou não muda nada?
“Me interesso por relacionamentos humanos. Não tenho dependência de sexo, já fui escravo, gosto mas não dependo, é uma coisa boa como tantas outras. Sexo já foi o meu primeiro foco na vida, mas mudou a minha cabeça, apesar de estar tudo em dia.”
6
Você é uma pessoa muito organizada? Tem um acervo da sua carreira? Você emprestou muito material para o documentário “Olho Nu”, sobre sua vida?
“Tenho 300 horas de documentário da minha vida, emprestei ao Canal Brasil, ficaram com o material. Agora devolveram tudo em CD.”
7
Você é espiritualizado?
“Me considero espiritualizado. Procuro estar em harmonia com o todo, trato as pessoas como gosto de ser tratado. Existe uma percepção minha de que não sou apenas esse corpo, existe algo a mais e eu estou prezando esse “a mais”. Lembrando que a necessidade da natureza é sagrada. Não tenho religião formal, mas transmito boas energias – isso é um exercício. Sou daqueles que ficam muito bem sozinhos, sempre fui assim. Em muitas situações, fico em companhia de amigos, mas calado, ou seja, em paz comigo mesmo.”
8
Qual é a sua próxima investida artística? É como diretor de show, como ator de cinema, o que vem por aí?
“Vou fazer um trabalho com a Ana Carolina, um ator e eu cantando Carlos Gomes e Villa-Lobos e falando poema de Gonçalves Dias. Estamos a procura do ator até março. Vou encerrar fazendo uma turnê pela América do Sul.”
Foto: Reprodução do IG

Postar um comentário