Eram tantos que mais de um ano após a eleição ainda restam santinhos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no bar do Nei, espécie de tribuna política de Itaboraí, cidade a 53 quilômetros do Rio onde o peemedebista mais recebeu votos proporcionalmente.

Sobre a imagem do peemedebista estava o nome do professor de Português José Leão Filho, 58, que declara não apoiar mais Cunha."Fomos de casa em casa pedir voto. Ele tem que ser afastado para se defender das denúncias de corrupção", disse.

O desencanto com o deputado se espalha pela cidade, que na época da eleição ainda não vivia a tensão pela redução no ritmo dos investimentos no Comperj —maior obra da Petrobras no Estado. Atualmente, o desemprego aumentou na cidade.

Foi ali que Cunha apostou suas fichas quando a Operação Lava Jato ainda nem nascera e a arrecadação de impostos já batia recordes, graças ao projeto da Petrobras.

Em 2012, o presidente da Câmara indicou o candidato do PMDB à prefeitura, Helil Cardozo. Foi o único que ele tentou e emplacou nos 92 municípios do Estado.

Dois anos depois, o prefeito retribuiu. Garantiu a Cunha 17,1% dos votos nominais a candidatos a deputado federal - 19.054 votos do total de 232.708 obtidos por Cunha.

Cardozo convenceu a cidade e os companheiros do bar do Nei, que frequenta sem beber álcool, pois é evangélico, que Cunha seria uma trincheira da cidade em Brasília.

E onde estão os eleitores de Cunha? "Estão todos escondidos", brinca o aposentado Josenir Pereira de Castro, 76, "Ele é inteligente. Se fosse burro, já tinha caído. Eu pedi voto porque o Helil, que foi criado com a gente, pediu. O Cunha tem que sair antes que saia preso", afirmou.


O professor José Leão não leva mais o santinho de Cunha na carteira.
Quem mostrou o pequeno pedaço de papel amarelo, em clima de pilhéria, foi Alcidinei Silva, 44, o Nei, dono do bar que fica em frente à seção do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) na cidade.
Filiado ao PMDB desde 1988, Nei também pediu votos em Cunha e hoje defende seu afastamento. Sobre as contas na Suíça, tem uma teoria. "Deve ser lavagem de dinheiro", afirmou.

Os três dizem não se arrepender, mas também não se orgulham do voto.
Rose Silva, 38, eleitora de Cunha, estava arrependida e, principalmente, desiludida com o discurso de campanha, de que ele ajudaria Itaboraí.
"Eu fui pela cabeça dos outros. Quase todo mundo aqui votou nele", disse.
A diarista Gislaine Aparecida Soares, 49, acreditou no discurso de união entre as esferas municipal, estadual e federal. Seu filho, Maicon, 22, morreu após um acidente de motocicleta.

O rapaz passou um mês no Hospital Municipal Desembargador Leal Junior esperando uma operação e morreu por causa de uma infecção.
"Era Pezão [governador do Rio], Helil e Cunha. Achei que se votasse em todos os candidatos do mesmo partido a cidade iria melhorar. Se arrependimento matasse...", disse ela, que mora em rua sem asfalto no distrito de Itambi.
O prefeito conta que conheceu Cunha em 2010, quando ele apoiou sua candidatura derrotada a deputado estadual pelo nanico PTN.
Cardozo diz não se arrepender de tê-lo apoiado e defende sua permanência na presidência da Casa. Cunha foi responsável por emendas parlamentares para asfaltar 27 ruas na cidade, afirmou.
Procurado, o presidente da Câmara dos Deputados não quis comentar. 

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