"Oi, Gílson. Aqui é da ESPN. Como você está?"
"Sobrevivendo
É assim que Gílson Kleina, técnico do Avaí, atende o telefone para ser entrevistado peloESPN.com.br. Ao lado de Tite, do Corinthians, e Levir Culpi, do Atlético-MG, ele é o único treinador que permanece no cargo desde o início do Campeonato Brasileiro, apesar de o time catarinense estar na beira da zona do rebaixamento.
A situação de Kleina causa até estranhamento ao torcedor brasileiro, acostumado às demissões de técnicos em série. Afinal, todos os times que estão brigando contra a queda já mandaram pelo menos um comandante embora.
Por que o Avaí está fazendo diferente?
"A gente não sabe como é o dia a dia dos outros clubes, mas, desde que cheguei ao Avaí e nos salvamos do rebaixamento no Catarinense, sabíamos que o objetivo é só um: manter o clube na primeira divisão, e a diretoria entende que isso está se aproximando", diz Kleina.
"Claro que todas as equipes, tirando o Corinthians, oscilaram no campeonato e ficaram algumas rodadas sem vencer. Acho que a maior virtude do Avaí foi o entendimento da diretoria quando o time oscilou. Eles viram que isso ocorreu por causa de lesões, que ocasionaram uma queda técnica. A diretoria entendeu que a culpa não foi de um só, mas sim das circunstâncias. E, por isso, estamos no cargo até hoje", completa.
Kleina, aliás, idealiza um mundo no qual há limites para trocas de treinadores. Por enquanto, não passa de sonho, mas sua vontade é que isso venha a se tornar regra.
"Não posso concordar com uma demissão como a do Milton (Mendes, ex-comandante do Atlético-PR). Acho que os dirigentes têm que entender que não podem contratar dois, três treinadores por temporada, para dar aquela alavancada de quatro, cinco jogos. Por isso, sou a favor de uma legislação na qual os treinadores possam trabalhar no máximo em dois clubes em um ano, e que os times tenham janela para trocar de técnico. Só aí você terá de fato treinadores capacitados, e não aventureiros", explica.

ESTRESSE
Aguentar o dia a dia na briga contra o rebaixamento, porém, não é fácil. Segundo Gílson Kleina, o estresse deteriora a saúde e afeta o psicológico.
Nessas horas, ele busca apoio na família.
"Vida de treinador é complicada. É uma das profissões na qual vocês mais se entrega. Quando você perde, cai tudo em cima de você. Por isso tem que ter a força da família. A gente tenta separar as situações sempre, mas, quando tem muita cobrança, é sempre hora de estar junto, um dando apoio ao outro, tendo um outro tipo de conversa fora do futebol", afirma.
"Nunca quero ver minha família triste, mas sempre que tem essa pressão em cima de mim, eles têm que entender. Eles estão sempre comigo, dando equilíbrio, pois o futebol toma muito tempo da gente, afeta a saúde, tem todo o estresse. Tem que cuidar da saúda, fazer uma atividade física que dê prazer. E vou sobrevivendo do jeito que dá...", salienta.
Segundo Kleina, o respaldo mostrado pelo Avaí no Brasileirão é semelhante ao mostrado pela Ponte Preta em seu início no clube campineiro, e também no Palmeiras, que não o demitiu após a derrota por 6 a 2 para o Mirassol, no Paulistão de 2013.
"Quando perdemos de 6, a diretoria viu que fomos para o jogo sem zagueiro, que tivemos que colocar um menino da base na 'fogueira', vários desfalques, dificuldade financeira para contratar. Naquela época, tivemos uma reunião e a diretoria viu que era uma situação de treinamento. Depois, iniciamos outra competição [Série B] e montamos uma equipe muito forte. Todas as vezes que oscilei no comando do Palmeiras foi por causa de desfalques, e a diretoria soube separar as coisas", recorda.

MATEMÁTICA DA PERMANÊNCIA
Para seguir tranquilo em Santa Catarina, com o "Leão" na primeira divisão, contudo, o treinador calcula que terá que alcançar a famosa marca dos 45 pontos.
"Estamos fazendo projeções jogo a jogo. Cada rodada a chance de permanecer aumenta ou diminui. Algumas rodadas atrás, ninguém diria que o Vasco teria essa reação. Quando você vê que ter 30 pontos em disputa, querendo ou não, todos têm chance de se salvar. A gente vê 45 pontos como 'número mágico' para se salvar, mas pode ser menos ou mais. Só tem uma certeza: com 45 pontos, ninguém nunca caiu na história", lembra.
"Então, nos 10 jogos que restam, estamos pensando em quatro vitórias e dois empates [o Avaí tem 31 pontos]. Nosso saldo não é ruim, então temos que aumentar o número de vitórias. Se formos bem em casa, vamos nos manter", conclui.
Na próxima rodada do Brasileirão, o Avaí recebe o Vasco, penúltimo colocado e adversário direto na briga contra a queda, na Ressacada, às 11h (horário de Brasília).
Enquanto isso, Gílson Kleina vai sobrevivendo do jeito que dá...

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